Responsável pela tradução de “A Memória do Mar”, nova obra de Khaled Hosseini, escritor de “O Caçador de Pipas”, Pedro Bial conversou com o iG sobre a crise dos refugiados e a vida na TV.

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Pedro Bial
Divulgação / Rede Globo
Pedro Bial

Escrito em formato de poesia, segundo Pedro Bial , o maior desafio não foi manter a estrutura textual, mas sim a emoção que o livro carrega: “Alguns desafios da tradução é que você tem de se libertar do significado original da palavra. Às vezes, a mensagem que o escritor quer passar não funciona ao pé da letra”.

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Questionado se já conheceu Khaled Hosseini, autor do livro, pessoalmente o jornalista brinca: “Ainda não, mas ele já me fez chorar muito”.

Bial: O refugiado

Pedro Bial no lançamento do livro
Reginaldo Junior / iG
Pedro Bial no lançamento do livro "A Memória do Mar"

Filho de refugiados alemães, falar da causa para o multifacetado comunicador é algo pessoal e motivo de orgulho. Para ele, de onde a pessoa vem não determina a vida somente da primeira geração, mas também das gerações que sucederão. “Eu não seria a pessoa que sou hoje se não tivesse tido essa história”.

Dando um salto no tempo, ao abordar a crise na fronteira entre Venezuela e Roraima, Bial defende o Brasil: “A ideia de que o Brasil não ajuda os refugiados é nula”, diz ele citando os subsídios governamentais, documentação apropriada e comitês especializados na causa.

O apresentador ainda ressalta que estes incentivos são de suma importância: “Ainda mais num momento em que há discursos oficiais e quase oficiais que rechaçam o Brasil como um refúgio para um desterrado. O trabalho que o Brasil vem fazendo é exemplar”.

Ao falar sobre como a crise vem mexendo com o panorama mundial, o apresentador muda o tom: “A pressão migratória, sobretudo na Europa, foi fundamental para o renascimento de governos nacionalistas. Seja na Hungria, seja para a própria votação do Brexit ou na exploração de uma fronteira que nem tem uma crise tão crítica, como México e EUA. Estamos tendo uma visão do retrocesso, quando devia existir uma luz no fim do túnel”.

A situação de refúgio nasce em cenários de guerra. Todavia, mesmo que os conflitos sociais, políticos e religiosos tivessem fim, a crise ainda existiria por um bom tempo.

Abordando possíveis soluções para o problema que afeta milhares de pessoas, o apresentador tem uma visão agridoce: “Assim como o aquecimento global, é uma questão que não será resolvida com decisões locais, mas só quando as nações se entenderem e adotarem políticas para isso. Aí chegaremos lá, se é que chegaremos”.

Bial: O jornalista

Pedro Bial no lançamento do livro
Reginaldo Junior / iG
Pedro Bial no lançamento do livro "A Memória do Mar"

Ao continuar, Bial confidenciou uma história de quando cobriu a crise de refugiados curdos após a Guerra do Golfo, em 1991. "Nós chegavamos ao acampamento dos curdos, onde morriam dezenas de pessoas por dia... o acesso a esses acampamentos era muito difícil. Por isso havia necessidade de helicóptero dos soldados americanos”.

“Naquela fila de jornalistas de TV querendo pegar helicóptero um na frente do outro, o oficial americano que estava coordenando o embarque disse: ‘Podem ficar calmos, todo mundo vai ter sua história’. O que ele queria dizer era que cada um teria a filmagem de uma pessoa morrendo. Conto essa história porque não consigo esquecer”.

Por mais que seja de conhecimento público, nem todos sabem que as guerras ainda existem. Para Bial o problema é tão sério que a crise soa como “notícia velha”, algo que sempre esteve ali e nunca é, de fato, solucionado. Todavia, ao falar da cobertura jornalística brasileira ele não vê negatividade: “Estamos cobrindo bem. É importante que o Brasil se entenda como um País de refugiados, afinal, os benefícios são inúmeros”.

Em seguida, ele faz uma analogia com os EUA: “É quase ridículo um presidente como o Trump, cujo o avô era alemão, um refugiado, ter uma política xenofóbica ou anti imigrante. Não estou dizendo que é simples receber uma massa de imigrantes, mas temos que chegar a alguma conclusão. Até porque, em uma distância próxima, isso nos beneficia”. 

Bial: o apresentador

Ao falar de como a crise tem se "modernizado", Bial citou a novela “Órfãos da Terra” e como a produção da Globo traz a questão de uma maneira mais precisa para os brasileiros.

“O audiovisual pode tocar os corações, a novela está trazendo esse universo muito mais próximo e palpável para nós brasileiros, porque fala ao coração. Em momentos de crise extrema, você só atinge as pessoas falando ao coração, o cérebro não dá conta de tudo”.   

Falando em TV, o apresentador da Globo foi questionado se o " Conversa com Bial " terá uma episódio dedicado aos refugiados: "Vai ter um episódio especial sobre este livro. Já fizemos [sobre refugiados] ano retrasado, e este ano faremos de novo", adiantou ele, que revelou que a situação na fronteira da Venezuela também ganhará espaço no talk show. 

Fazendo um balanço sobre os três anos de "Conversa com Bial", o apresentador diz que o objetivo principal continua sendo o mesmo desde o primeiro dia: "Balançar roseira", diz ele, que logo explica: "É um ditado antigo sobre colocar as pessoas para pensar, para refletir, para sair da discussão pobre. As pessoas são mais do que uma coisa ou outra". 

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Com o Dia dos Pais a caminho, Pedro Bial comemorará a data acompanhado de seus sete filhos, mas sem esquecer da luta que ainda parece longe de ser extinta. Fechando o diálogo, ele cita uma situação em que Albert Einstein, ao entrar em um país, precisou preencher um formulário no qual tinha um espaço para determinar a raça: "Nesta parte ele escreveu: 'Humana'".

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