Walcyr Carrasco prometeu um folhetim clássico quando “O Outro lado do Paraíso” estava prestes a estrear. Mas, tirando o elenco cheio de atores clássicos, pouco do conceito foi visto nos 100 capítulos completados nessa quinta-feira (15). De fato, a mocinha se apaixona perdidamente logo no primeiro capítulo, e ao longo da novela vemos sua saga para encontrar a felicidade depois de todo o mal que lhe aconteceu. Mas, seu caminho é tortuoso, não só para ela, mas para o espectador. Dividida em duas fases, a novela foi muito criticada na primeira, pelos diálogos e trama arrastados e a maldade aparentemente gratuita distribuída entre boa parte dos personagens. Vendo de longe, parecia que a região do Jalapão deveria ser evitada a todo custo, devido a alta concentração de gente má.

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Reprodução/Globo
"O Outro Lado do Paraíso"

Mas, com a chegada da segunda fase e a vingança de Clara ( Bianca Bin ), o público voltou a se empolgar com “ O Outro Lado do Paraíso ”. Afinal, quem é versado em Nina e Carminha sabe que uma boa vingança deixa a gente pregado na TV. E assim ela conseguiu muito dinheiro, alguns aliados, e agora vê seus inimigos caírem um a um. Com a temática da “lei do retorno”, vemos Clara humilhar o médico que ajudou a interna-la ao expor sua homossexualidade, assim como recorrer a uma coaching/advogada para resgatar os abusos do delegado que prejudicou a uma criança. Ou seja, em seu caminho por redenção, vale qualquer coisa, mesmo que suas ações prejudiquem outras pessoas.

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Lei do Retorno

A ideia de que “tudo que vai volta” permeia o folhetim, mas de maneira muito óbvia e boba. Jô (Bárbara Paz) fez mal a Duda (Glória Pires) para ficar com seu marido, e provavelmente vai acabar sem ele. Lívia (Grazi Massafera) pegou o filho de Clara para criar, e deve acabar sem ele. Nem mesmo temas relevantes que Carrasco tenta incluir na história, como o racismo, são bem desenvolvidos. Nádia (Eliane Giardini) é uma mulher odiosa, mas isso é retratado de maneira quase cômica, como se esse fosse apenas “seu jeito”, e não uma pessoa que deveria ser presa.

O Outro Lado Do Paraíso
Reprodução/TV Globo
O Outro Lado Do Paraíso

Recentemente o autor comentou que para ele, para debater temas difíceis ou atuais precisa haver uma relação de prazer entre quem assiste e quem escreve. Ele ainda confessou sentir pulsão por falar de temas “que estão aí”, mas isso é mal refletido no papel. Os temas relevantes se tornaram notas de rodapé, ou motivo de piada (o que dizer do núcleo “cômico” entre o trio Samuel/Suzy/Cido?), jogados sem nenhuma pretensão de gerar debate ou qualquer reação que seja.

Isso sem contar os inúmeros personagens irrelevantes, como Mariano (Juliano Cazarré), Leandra (Mayana Neiva), Cléo (Giovana Cordeiro) e tantos outros que mais parecem fazer figuração e não servem a propósito nenhum. Nesse sentido, “O Outro lado do Paraíso” lembra outro fracasso recente do horário: “ A Lei do Amor ”, que foi deixando muitos personagens de lado e matando tantos outros só para se desfazer dos excessos.

Reviravoltas

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Divulgação/TV Globo

O Outro Lado do Paraíso

São muitos os momentos que a novela tentou mudar seu rumo com o famoso “ plot twist ”. Renan (Marcelo Novaes) voltando dos mortos, e mais pra frente, a transformação de Renato (Rafael Cardoso) são alguns exemplos. Mas isso também não evolui a trama em nada. Renato é malvado e queria passar a perna em Clara desde o começo? Ok, entra na fila. Somar inimigos para que ela derrube como pinos de boliche uma hora perde a graça se não há uma evolução da personagem.

E por evolução, leia-se de personalidade, caráter e não um banho de loja e um corte de cabelo. Depois de tudo o que ela passou, Clara ainda depende dos outros e segue se decepcionando com o comportamento das pessoas em quem confia. Não há uma proposta real para a personagem e ela terminará a novela quase como a mesma que começou, o que é ainda mais surpreendente considerando que se passaram mais de 10 anos desde o início da história.

O Outro Lado do Paraíso ” tem batido a marca dos 40 semanalmente. Mas a repercussão é costumeiramente negativa e o folhetim costuma ser motivo de piada. Algumas situações são tão surreais que o próprio diretor Mauro Mendonça Filho não concorda . O autor confessou buscar uma “mudança estilística que foge do neorrealismo de outras novelas”, mas o resultado é uma novela chata. Com dois meses para acabar, pouco vai mudar nesse sentido, e teremos que lidar com diálogos fracos e muito sofrimento da protagonista até o último minuto, antes do final feliz.

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