O filme 'Bacurau' foi exibido no Festival de Cannes em 2019
Divulgação - 17.05.2022
O filme 'Bacurau' foi exibido no Festival de Cannes em 2019


Pela primeira vez em 20 anos, o Festival de Cannes, que começa nesta terça (17), não contará com novos filmes de diretores brasileiros em suas mostras. A última vez que isso aconteceu foi em 2001. No ano em que se comemora os 60 anos da Palma de Ouro conquistada por “O pagador de promessas” (1962), de Anselmo Duarte, o cinema com assinatura nacional ficou de fora não apenas da mostra competitiva principal de longas e curtas-metragens, mas de todas as principais programações paralelas do evento, como Un Certain Regard, Cinéfondation, Semana da Crítica e Quinzena dos Realizadores.

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A representação brasileira este ano fica restrita à participação do longa “Armageddon time”, dirigido pelo americano James Gray e com produção do carioca Rodrigo Teixeira, da RT Features, na mostra competitiva, e à exibição de uma cópia restaurada de “Deus e o diabo na terra do sol” (1964), de Glauber Rocha, na seleção Cannes Classics.


‘Não é surpresa’

Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim com “Central do Brasil” (1999) e três vezes selecionado para a disputa da Palma de Ouro —com “Diários de motocicleta” (2004), “Linha de passe” (2008) e “Na estrada” (2012) —, o diretor Walter Salles lamenta a ausência de produções nacionais em Cannes, mas aponta que “não é uma surpresa”.

— É a decorrência de uma política de Estado, o estrangulamento da cultura no Brasil. Já vivemos isso nos anos Collor. Durante três anos, o cinema brasileiro desapareceu das telas, e portanto dos festivais. Mas voltou com força assim que Collor caiu. Os governos passam, a cultura fica — diz Salles.

A ausência de produções nacionais em Cannes surge apenas três anos após uma marcante participação do Brasil no evento. Em 2019, o festival teve “A vida invisível”, de Karim Aïnouz, eleito o melhor filme da mostra Un Certain Regard; “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, na mostra competitiva principal, na qual dividiu o Prêmio do Júri com “Os miseráveis”; “O traidor”, de Marco Bellocchio, coprodução entre Brasil e Itália que participou da competição oficial; e “Sem seu sangue”, de Alice Furtado, exibido na Quinzena dos Realizadores.

— Grandes festivais de cinema são encontros internacionais onde países marcam presença com produtos culturais e comerciais. É a presença natural e cidadã da identidade de uma nação, soft power comprovado, sul-coreanos, franceses, canadenses, mexicanos, australianos, todos marcam presença com apoios governamentais — destaca o cineasta Kleber Mendonça Filho, que também liga a falta de investimentos no setor a uma política de governo.

Apesar de lamentar a ausência de novos títulos brasileiros no evento francês, a cineasta Paloma Rocha, filha de Glauber, comemora a exibição do longa de seu pai.

— “Deus e o diabo na terra do sol” ser o único filme brasileiro selecionado para Cannes recoloca Glauber no certame de origem dele, entre os diretores mais importantes do mundo, e é um ato político. O filme foi restaurado nos últimos três anos, num período em que a Cinemateca Brasileira foi fechada e pegou fogo. Mas como meu pai dizia: “O novo é eterno” — diz ela, que dirigiu a equipe de restauração da obra.

Mostras paralelas

Seis curtas brasileiros estão presentes no Short Film Corner do Festival de Cannes, mas não se trata de uma seleção oficial ou competitiva. A mostra faz parte da área de mercado do evento. Estão na lista “Circular”, de Gabriel Oliveira Martins; “A fita vermelha”, de Nestor Luiz; “Goma”, de Igor Vasco; “Imaginário carnaval", de Bernardo Costa; “Madrugada”, de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza; e“Vermelho quimera”, de Thiago Soares e Oskar Metsavaht.

No “Marché du film”, que acontece paralelamente ao festival com foco na indústria audiovisual, o festival de documentários “É tudo verdade” foi um dos dez eventos selecionados para participar.

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