O assustador Pennywise mobiliza conversas na cultura pop
Divulgação/Warner Bros.
O assustador Pennywise mobiliza conversas na cultura pop

Com “It – Capítulo Dois” dominando as bilheterias e “Coringa”, vencedor do Leão de Ouro em Veneza, no centro dos debates culturais antes mesmo da estreia, marcada para 3 de outubro, os palhaços parecem dominar completamente o cinema. O fascínio por eles na sétima arte, porém, não é novo. O próprio “IT” teve uma versão em 1990 em que Tim Curry vivia Pennywise.

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Condado Macabro
Divulgação/Elite Filmes

O palhaço mau em cena de "Condado Macabro"

“Essa questão envolvendo o palhaço é bem interessante por causa da máscara”, advoga Diego Freitas, cineasta habituado a trabalhar com códigos e metáforas em seus curtas e que lançou seu primeiro longa-metragem, o suspense psicológico “O Segredo de Davi” , em 2018.  “Tem uma coisa por trás do arquétipo. A figura do palhaço traz essa imprevisibilidade”.

Marcos deBrito, que efetivamente usou a figura do palhaço no terror “Condado Macabro” , lançado em 2015, concorda com essa avaliação. “A figura do palhaço tem essa ambiguidade, essa coisa de quebra de expectativa que o cinema de gênero usa tão bem”, elabora a respeito da apropriação da imagem do palhaço pelo filmes de terror.

“Até por conta de ‘It’ há essa ideia do sobrenatural em volta do palhaço no gênero. Eu quis puxar mais para a realidade”, observa sobre a razão de ter inserido dois palhaços em seu slasher à brasileira. Ele conta que no curta-metragem de 1999, que originou o longa lançado em 2015, não havia os personagens dos palhaços. “Palhaço no filme de terror você já sabe que ele é culpado, mas eu quis demonstrar que no meu filme tem gente pior”.

A balada do amor e do ódio
Divulgação/Elite Filmes

Cena de A Balada do Amor e do Ódio

“Condado Macabro” trabalha diversas referências ao cinema de horror norte-americano dos anos 70 e 80 e os palhaços foram uma maneira que DeBrito encontrou de abrasileirar a trama. A ideia de inserir essas figuras, admite o cineasta, veio de “A Balada do Amor e Ódio” (2011), do espanhol Alex de la Iglesia, cujo palhaço triste ficou em seu imaginário. O diretor cita o Pennywise de Tim Curry como uma figura marcante de sua formação cinéfila. DeBrito não gostou de “It – Capitulo Dois”. “Você sente a mão do estúdio querendo mais um sucesso e se preocupando menos com a qualidade”, lamenta.

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O Coringa vem aí

Coringa promete ser paradigmático no gênero das adaptações das HQs
Divulgação/Warner Bros.
Coringa promete ser paradigmático no gênero das adaptações das HQs

Se “It” é o assunto de hoje, “Coringa” é o tópico de amanhã. “Estou ansiosíssimo pelo filme”, admite Diego Freitas. “Por que esse personagem é tão fascinante? O Coringa é o caos. Ele oferece uma catarse, nos permite fugir da ordem um pouco”.

O diretor, que considera Joaquin Phoenix um ator injustiçado, admite curiosidade por sua interpretação. “Nesse Coringa dele tão colocando uma humanidade no sentido de uma relação mais causal”. Para Freitas, esse é o papel da arte. Promover o debate, comentar os desejos, confessos ou não, da sociedade.

Freitas, que desconhecia a polêmica levantada pelo filme nos festivais de Veneza e Toronto, onde críticos apontaram “violência perturbadora” e uma “perigosa justificação da cultura incel”, subcultura heternormativa que culpa as mulheres pelo fracasso romântico ou sexual de homens, em sua maioria brancos, diz que muitos filmes foram incompreendidos em seus lançamentos, como “Clube da Luta”, “Taxi Driver” e “Laranja Mecânica”, e que o debate trazido pelo palhaço do crime é positivo.

A imprevisibilidade do Coringa é justamente um de seus aspectos mais sedutores e foi a grande característica da versão de Heath Ledger, que ganhou um Oscar póstumo pelo papel, em “O Cavaleiro das Trevas” (2008). “Lembra que ele contava uma história diferente sobre sua cicatriz para cada pessoa?”, recorda Freitas.

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O que dá para ter como previsível é que o palhaço será uma das imagens mais marcantes do cinema em 2019.

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