Ambientado em um subúrbio de Paris, “Les Misérables” (“Os miseráveis”, mesmo título da obra-prima do escritor francês Victor Hugo), de Ladj Ly conta a história de três policiais que tentam ocultar seus rastros e manter a paz depois que a prisão de um adolescente sai de controle e é registrada por um drone que estava de passagem.

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Ladj Ly
Reprodução/Twitter
Ladj Ly


A estreia do pungente filme de Ladj Ly no Festival de Cannes, selecionado para concorrer à Palma de Ouro, se dá seis meses depois do início de uma onda de manifestações populares, às vezes violentas, contra o alto custo de vida e a suposta indiferença da classe dominante da França. Os protestos atraíram atenção para as táticas de controle de multidões pela polícia francesa, inclusive o uso de armas que disparam balas de borracha.

"Hoje, com os coletes amarelos, você sente que as pessoas estão descobrindo agora a violência policial" disse Ladj em uma coletiva de imprensa depois da estreia do filme em Cannes, na quarta-feira. "Temos sido os coletes amarelos por mais de 20 anos. Temos sido atingidos por balas de borracha na cara por mais de 20 anos. Gostaríamos que o senhor Macron assistisse a este filme", acrescentou o diretor de 37 anos, que cresceu em um dos subúrbios mais violentos de Paris e baseou o filme em uma prisão real que registrou lá quando mais jovem.

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Ambientado em grandes projetos habitacionais onde adolescentes, a Irmandade Muçulmana e famílias de imigrantes dividem o território, o filme é por vezes amargamente engraçado. Seu bruto trio de policiais atira aleatoriamente uns nos outros e cruza com delinquentes excêntricos, com tensos entreveros nas ruas logo se mostrando mal-entendidos absurdos.

Mas o ritmo intenso também traz a promessa de violência, e quando uma corrida para localizar o desordeiro local Issa foge do controle, um luta frenética se segue. Apenas no início do filme a grande Avenida dos Champs-Elysees, cenário de muitos dos protestos dos coletes amarelos, faz uma breve aparição, tomada de torcedores de futebol em festa – uma abertura exuberante que logo é cortada para a vida real do dia seguinte.

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“Ele mostra uma força policial nervosa e pronta para atirar contra uma subclasse urbana oprimida em uma batalha de vontades e armas que são por demais conhecidas universalmente”, escreveu o crítico Guy Lodge na revista Variety.

A escolha de título de Ladj Ly também deixa claro que a temática não é de forma alguma nova e muitas das cenas filmadas na vizinhança de Montfermeil são inspiradas pela atmosfera de uma revolução em construção no início do século XIX da novela épica de Victor Hugo.

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