O mais novo drama de Steven Spielberg, "The Post – A Guerra Secreta”, gira em torno da decisão da publisher Kay Graham (Meryl Streep) em publicar documentos ultrassecretos, conhecidos como Pentagon Papers, do governo americano sobre a Guerra do Vietnã (1955-1975) no jornal The Washington Post . O personagem que acompanha Kay nessa história é o editor-executivo Ben Brandlee (Tom Hanks). Porém, o drama jornalístico é mais intenso e profundo do que imaginamos. 

O diretor Steven Spielberg orientando os atores Meryl Streep e Tom Hanks durante as filmagens do filme 'The Post - A Guerra Secreta'
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O diretor Steven Spielberg orientando os atores Meryl Streep e Tom Hanks durante as filmagens do filme 'The Post - A Guerra Secreta'


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“Descoberto” pelo The New York Times

A história de “The Post” começa na primavera de 1971, quando o editor-executivo Ben Brandlee e a editora-chefe Kay Graham do The Washington Post , ouviram rumores sobre uma grande história do jornal The New York Times.  A tal história era sobre o Pentagon Papers (Papéis do Pentágono, em tradução livre), nome popular dos documentos ultrassecretos do governo dos Estados Unidos sobre o planejamento interno sobre a Guerra do Vietnã. Agora, como os tais documentos foram parar dentro do Times ?  Daniel Ellsberg, ex-analista militar norte-americano fotografou os documentos secretamente e depois passou para o repórter do jornal Neil Sheehan. À medida que a Guerra do Vietnã ia acontecendo, o Times divulgava os documentos sobre o envolvimento do país.

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Com reputação em grande ascensão (em grande parte pelo papel exercido por Ben Brandlee, trazido por Graham da revista Newsweek ), o The Washington Post não pretendia ficar de fora da história. Brandlee exigiu que sua equipe criasse o seu próprio conjunto de Pentagon Papers, mas, também teve que engolir o seu orgulho para que o jornal produzisse artigos com base nos documentos divulgados pelo rival.

Tom Hanks (Ben Bradlee) e Meryl Street (Katharine Graham) em
Twentieth Century Fox
Tom Hanks (Ben Bradlee) e Meryl Street (Katharine Graham) em "The Post - A Guerra Secreta"


Richard Nixon x Pentagon Papers

O Pentagon Papers havia sido encomendado pelo ex-secretário de Defesa Robert McNamara (que cobriu eventos das presidências de Harry Truman a Lyndon Johnson) durante o mandato de Richard Nixon, que juntamente com a Casa Branca, não gostavam nem um pouco que aquele tipo de informação (contida nos relatórios do Pentagon Papers sobre a Guerra do Vietnã) fosse exposta. Nixon também tinha receio que as negociações com os vietnamitas do norte pudessem ser prejudicadas

O The New York Times acabou perdendo os documentos quando o procurador-geral John Mitchell disse que o jornal estava violando a Lei de Espionagem. O Times recusou-se parar de publicar o Pentagon Papers, porém o governo obteve uma ordem judicial para impedir a publicação. Em 15 de junho, o Times já não poderia publicar nenhum documento do Pentagon Papers.

The Washington Post consegue acesso ao Pentagon Papers

Após a ordem judicial e a suspensão das publicações dos documentos ultrassecretos pelo The New York Times , o editor-nacional do Washington Post , Ben Bagdikian, descobriu que o grande responsável pela descoberta dos papéis era Daniel Ellsberg. Assim, no dia 16 de junho, Ben Bagdikian foi para Boston com a promessa de ter suas cópias do Pentagon Papers. Na manhã seguinte, Bagdikian voltou para Washington D.C com 4.400 cópias de páginas de documentos ultrassecretos. O conjunto estava incompleto, já que o relatório original do Pentagon Papers continha 7.000 páginas. As cópias receberam seu próprio assento no vôo de primeira classe antes que chegasse às mãos de Bradlee. Na casa de Bradlee, uma equipe de redatores e repórteres estava esperando a chegada dos documentos, no qual começaram a estudar e escrever artigos.

Ben Brandlee (Tom Hanks) conferindo o Pentagon Papers
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Ben Brandlee (Tom Hanks) conferindo o Pentagon Papers


O drama jornalístico do Post começou quando os repórteres e a equipe jurídica do jornal entraram em conflito: naquele momento, a Washihgton Post Company estava no meio da sua primeira ação de oferta pública (US$ 35 milhões) e ser acusada ou envolvida em um processo, poderia prejudicar a imagem do jornal. Caso o jornal fosse acusado, também significaria a possibilidade de perder as licenças nos canais de televisão (cerca de US$ 100 milhões). Porém a integridade do jornalismo praticado pelo The Washington Post era considerada um bem nacional, então, o compartilhamento dos documentos, poderia ter um efeito muito maior na sociedade.

Além do mais, o The Washington Post também poderia ser acusado de violar o decreto judicial emitido pelo The New York Times , de modo que eles poderiam sofrer uma consequência maior que o Times havia enfrentado inicialmente.

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A escolha de Katharine Graham

Katharine Graham tornou-se editora-chefe da Washington Post Company após o suicídio do marido em 1963. Graham passou por cima das dúvidas e ganhou confiança para assumir sua posição dentro do jornal, porém, nunca havia enfrentado tal episódio: publicar ou não publicar?!

Meryl Streep volta a disputar o Oscar por seu papel em
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Meryl Streep volta a disputar o Oscar por seu papel em "The Post - A Guerra Secreta"


Em certo momento, Graham perguntou ao presidente do Washington Post , Fritz Beebe, se ele publicaria os documentos do Pentagon Papers: “Eu acho que não faria”, respondeu. Graham perguntava-se se era possível atrasar a publicação, considerando o risco do jornal, mas Bradlee e outros funcionários do jornal deixaram claro que a redação se oporia a qualquer atraso. O diretor editorial do Post, Phil Geyelin disse a Katharine Graham: “Há mais do que uma maneira de destruir um jornal”, referindo-se a moral do jornal caso optasse por não publicar os documentos. Ninguém queria que o The Washington Post ficasse para trás. Graham (Personal History, 1997) descreveu que a maneira como Beebe havia lhe respondido quando foi pedir o conselho, lhe dava abertura para ignorá-lo (no bom sentido). No final, Graham disse a sua equipe: “Vamos lá. Vamos publicar”.

The Washihgton Post publica o Pentagon Papers

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Meryl Streep (Kat Graham) em cena no filme 'The Post - A Guerra Secreta'

O primeiro artigo do Post sobre o Pentagon Papers apareceu na edição de 18 de junho e o Departamento de Justiça avisou que o jornal também violaram a Lei de Espionagem, colocando em risco os interesses de defesa dos EUA. Como The New York Times , o The Washington Post recusou-se a interromper a publicação, então, o governo levou o caso para o tribunal. O governo argumentou que a segurança nacional e as relações diplomáticas tinham sido postas em risco pelas publicações, mesmo os repórteres demostrando que muitas das informações que o governo tinha já eram públicas. Em certo momento, o Departamento de Justiça pediu para que os réus do Post não comparecessem as audiências devido às preocupações de segurança.

Em um ponto, o Departamento de Justiça pediu que os réus do Post não comparecessem a audiências devido a preocupações de segurança, um pedido que o juiz se recusasse a permitir. O sigilo foi mantido, no entanto, com alguns procedimentos realizados em salas com janelas apagadas.

Decisão da Suprema Corte

Em 26 de junho, a Suprema Corte decidiu ouvir o The Washington Post e o The New York Times . Em 30 de junho, a Suprema Corte emitiu uma decisão que apoiava o direito de publicação dos artigos do Pentagon Papers, era uma vitória para a liberdade de imprensa.

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"The Post - A Guerra Secreta", novo filme de Steven Spielberg


A publicação dos documentos ultrassecretos não só aumentou a posição nacional do Washington Post , como também, deixou claro para a redação do jornal que a editora-chefe Kay Graham acreditava na liberdade de imprensa. O Pentagon Papers foi o episódio que antecedeu o caso Watergate, no qual dois jornalistas do Post , Bob Woodward e Carl Bernstein, começaram a investigar a invasão no complexo Watergate. A investigação resultou na queda do presidente Richard Nixon.

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O filme "The Post - A Guerra Secreta"  de Steven Spielberg trata da importância do jornalismo e da liberdade de imprensa em meio a casos de grande importância e relevância para a sociedade. O filme, indicado a dois Oscars, já está em cartaz no Brasil.

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