Em um ano em que a “Mulher-Maravilha” foi um dos grandes marcos da cultura pop com um filme que beirou a unanimidade, um filme que se ocupe das circunstâncias de sua criação é mais do que bem-vindo. “Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas”, no entanto, é muito mais do que isso. O filme escrito e dirigido por Angela Robinson, que tem entre seus créditos as séries “Hung” e “The L World”, mostra como duas mulheres foram decisivas para que William Moulton Marston criasse a personagem.

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Cena de Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas: registro delicado de uma relação amorosa
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Cena de Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas: registro delicado de uma relação amorosa

Marston (Luke Evans) é casado com Elizabeth (Rebecca Hall) e ambos são expoentes das ciências humanas. Ele, um professor respeitado no âmbito da psicologia e com aulas concorridíssimas; ela, uma cientista que tenta vencer o machismo da academia e receber seu doutorado em Harvard, enquanto tenta progressos com o que viria a ser o detector de mentiras. Logo de cara, “Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas” estabelece que o casal de intelectuais não só ostenta personalidades interessantes, como constitui em si uma personalidade interessante.

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O professor externa um interesse intelectual, mas que também é sexual, por Olive Byrne (Bella Heathcote), aluna em uma de suas classes. Elizabeth consente sob a justificativa de que “não sente ciúmes de natureza sexual, apenas intelectual”.  Estamos, portanto, diante de um casal à frente de seu tempo e muito provavelmente à frente de nosso tempo. Mas a curiosidade pelo comportamento humano, que une e atrai o casal, caminha contra os instintos sociais da época e parte da força do filme de Robinson reside aí; já que Olive e Elizabeth também sentem atração uma pela outra. “Vocês duas são a construção da mulher perfeita”, advoga Marston em dado momento após elencar as qualidades de uma e outra.

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Cena do filme Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas, uma das estreias deste final de semana nos cinemas brasileiros

A construção da Mulher-Maravilha surge da combinação de uma de suas teorias sobre o comportamento humano e sua relação com essas duas mulheres tão corajosas, delicadas, sexuais e acolhedoras. “É uma propaganda feminista”, bradou o professor na tentativa de convencer o editor que “havia descoberto o Super-Homem” em apostar em uma heroína. Todas haviam fracassado até então. A grande beleza desse filme, que seguramente integra o rol dos melhores do ano, é ser tanto um esforço de compreensão do contexto em que uma personagem tão significativa em 2017 foi criada em 1942, como da relação afetiva delicada e cheia de percalços entre três pessoas que ousaram perseguir a felicidade contra todos os instintos. Os delas e os da sociedade da época.

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“Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas” é um retrato delicado de uma construção social a partir de demandas que só puderam ser elaboradas a partir da coragem de um punhado de párias. É um filme de profunda humanidade, algum erotismo e muita inteligência emocional.

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