Com a confirmação da compra da FOX pela Disney em um negócio de US$ 66 bilhões muita coisa vai mudar em Hollywood. A Disney passa a ter musculatura para ditar as cartas na indústria do entretenimento como jamais outra empresa teve. Mas há uma quantidade ainda mais assombrosa de questões ensejadas pela oficialização do negócio.

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Anúncio da compra da FOX pela Disney aconteceu nesta quinta-feira (14)
Chicago Tribune
Anúncio da compra da FOX pela Disney aconteceu nesta quinta-feira (14)


A primeira delas é como os órgãos reguladores vão atuar à luz de um negócio tão inusitado. Jamais um gigante do cinema comprou outro. É natural haver resistência e desconfiança em relação a um oligopólio por parte da Disney no cinema. Há questões práticas inerentes a este raciocínio. A Disney não precisará de duas empresas distribuindo filmes, portanto isso deve impactar a operacionalidade da FOX. O estúdio do Mickey Mouse hoje é o grande estúdio de Hollywood que menos lança filmes por ano – o que não impede sua liderança na arrecadação global anual. São oito lançamentos em 2017, incluindo “Star Wars – Os Últimos Jedi” neste fim de semana. A FOX lançou 13. O braço independente do estúdio, FOX Searchlight, outros 11.

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Como ficará a política de produção e lançamentos sob a égide da Disney? Bob Iger, CEO da Dsiney que ampliou seu contrato até 2021 para supervisionar a total integração da FOX, disse que “a Disney já demonstrou em aquisições passadas respeitar a cultura das empresas”. Mas Marvel, Pixar e LucasFilm viraram selos da Disney e agregaram valores da casa a suas produções de maneira notadamente hierárquica.

A FOX Searchlight produz filmes que a Disney não banca há muito tempo. São produções pequenas (até US$ 20 milhões de orçamento) que raramente dão lucro, mas encontram, além de respaldo da crítica, um público ansioso por um cinema adulto e pensante. É incerto o futuro da empresa sob os cuidados da Disney. Alguns filmes do estúdio para referência são “Birdman” (2014), “Cisne Negro” (2010), “Quem Quer ser um Milionário?” (2008), “Juno” (2007”, “Os Descendentes” (2011), “Pequena Miss Sunshine” (2006), “A Guerra dos sexos” (2017), “Três Anúncios para um Crime” (2017), “O Nascimento de uma Nação” (2016), “O Lutador” (2008), “O Grande Hotel Budapeste” (2014) e “A Forma da Água” (2017), entre outros.

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Montagem

Disney e FOX: o que o futuro reserva?

Outra inquietação diz respeito a como os filmes de heróis da FOX serão abordados na Marvel. “Há espaço para filmes para maiores de 18 anos”, observou Kevin Feige. Mas essa não é a especialidade da Marvel. A FOX ousou e se deu bem ao apostar na incorreção política e violência com Deadpool (2016) e “Logan” (2017). Ações que parecem imponderáveis em um estúdio regido por normas e padrões tão “familiares” como a Disney. “Avatar”, franquia criada por James Cameron e que hoje ostenta a maior bilheteria da história do cinema, também será controlada pela Disney. O segundo filme está programado para 2021 – ainda não há um filme de “Star Wars” – que detém a segunda maior bilheteria da história – para este ano.  Como o negócio afeta a franquia e a relação com James Cameron?

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Streaming e TV

O grande ativo da negociação com a FOX para a Disney, no entanto, não reside no cinema, mas sim no Streaming. É este o mercado que a Disney planeja entrar com força nos próximos anos. A aquisição da FOX dá mais musculatura para a empresa medir forças com a Netflix porque enfraquece o portfólio da rival e fortalece o seu.  Além do catálogo de filmes, estamos falando de séries também. A FOX possui vasto conteúdo e 30% de participação no HULU, outra plataforma de streaming que será crucial nesse novo jogo de poder que emerge em Hollywood.

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Divulgação

"American Horror Story": o vasto catálogo de séries da FOX e seus canais também vão para a Disney

A Disney controla agora o FX, canal pago que mede forças e prestígio com HBO e ShowTime, e passa a ter participação na SKY e Endemol. Além de ter dois canais na TV aberta norte-americana. Além da ABC, agora controla a FOX.

Os desdobramentos do negócio serão sísmicos e devem provocar sondagens entre outras grandes empresas de comunicação. Com o avanço de gigantes de tecnologia como Apple, Facebook e Google sobre o entretenimento, a Disney se arma para o futuro e se consolida como player em diversas frentes. Aos outros estúdios grandes (Sony, Universal, Warner e Paramount) resta cautela na leitura do cenário. A reação deles será providencial para a sobrevivência em uma Hollywood que adormece profundamente transformada.

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