O Rock in Rio, ao longo de suas 17 edições, já recebeu mais de 8,5 milhões de pessoas. O Festival surgiu em 1985 e, desde então já teve edições históricas, como o Queen de Freddie Mercury em 1985 ou Guns N’ Roses em 1991. Além disso, algumas das maiores bandas e artistas do mundo já passaram pelos palcos do festival, como AC/DC, Bruce Springsteen , Ozzy Osbourne e Cássia Eller. Com tantos anos de história, será que dá para cosiderá-lo o maior do mundo ?

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Bruce Springsteen fez diversos shows no Brasil, atraído pelo Rock in Rio em 2013
Divulgação/Rock in Rio
Bruce Springsteen fez diversos shows no Brasil, atraído pelo Rock in Rio em 2013

O Rock in Rio aposta em uma fórmula que já sabe que funciona: grandes nomes que atraem multidões e são certeza de bilheteria . Sendo assim, o festival não erra e é garantia de público a cada edição. “O público do Rock in Rio vai pelo evento, independente da banda”, comenta Lúcio Ribeiro, crítico musical, editor do site Popload e responsável pelo Festival Popload. Lúcio comenta que quem frequenta o RiR veste a camisa do festival, coisa que não acontece, por exemplo, no Lollapalooza que, de acordo com Lúcio, recebe mais críticas e seu público depende do line-up.  

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Não dá para negar que o Rock in Rio é um sucesso, em termos de tamanho. E, considerando apenas os números, o festival entra sim na lista dos maiores do mundo, equiparado a outros grandes eventos mundiais, como o Glastonbury e o Reading and Leeds na Inglaterra, e o Coachella , nos EUA. Mas, número não é o único fator decisivo para que um festival seja sucesso. Outro fator muito importante (ou mais) a ser considerado é a música. E, nesse quesito, o RiR perde seu espaço na lista. O festival faz apostas seguras e conta sempre com as mesmas bandas, não apostando em novos nomes ou artistas menos conhecidos, decisão que é certa nos outros exemplos citados acima.

Queen já fez apresentação histórica no Rock in Rio de 1985
Reprodução
Queen já fez apresentação histórica no Rock in Rio de 1985

Um dos propósitos de festivais é justamente apresentar artistas menos conhecidos para o público, bandas que lotam pequenas casas de show pelo país, mas não tem a visibilidade que o Guns N’ Roses tem, por exemplo. Além disso, apostar nos mesmos artistas é uma solução imediatista. O Glastonbury já tem 47 anos de existência, o RiR, 32 (com hiatos de até 10 anos entre uma edição e outra). Se quiser alcançar a longevidade do festival inglês, o Rock in Rio não pode continuar contando com esses artistas, que em 15 anos provavelmente não estarão mais em turnê. Isso não significa que algumas escolhas do RiR não sejam acertadas. O festival conseguiu trazer ao Brasil, por exemplo, Bruce Springsteen e Neil Young , grandes nomes no mundo da música, atraídos pela marca que, não fosse o festival, provavelmente não passariam por terras brasileiras.

Dinossauros

 “O quesito música é o grande tendão de Aquiles do Rock in Rio” comenta Marcelo Costa do jornalista editor do site especializado em música Scream & Yell. Marcelo comenta que o festival está sim entre os maiores do mundo por conta de público e é um dos raros festivais no Brasil que é uma marca , mas o fato de não ousar na curadoria das bandas pesa muito. E é justamente o fator “marca” que deveria oferecer mais ousadia no line-up do RiR. Tanto Lúcio quanto Marcelo concordam que o RiR não pensa no futuro. Ao colocar bandas consagradas, com muitos anos de estrada, os “dinossauros” da música, o RiR se prende em sua própria fórmula, e não terá muitas alternativas no futuro.

Na contramão do mundo

Lúcio comenta que, antes do Red Hot Chilli Peppers ser um dos grandes headliners por aqui, ele já esteve, ao longo de 20 anos desde o seu início, presente em festivais como o Lollapalooza, que apostaram na banda muitos anos atrás, e a incluíram em seu line-up mesmo quando ainda eram pequenos. Portanto, o festival tem a função de colaborar com a rotatividade de artistas, e até mesmo garantir que seu nome cresça. Ao não pensar nesse aspecto, o Rock in Rio acaba se sabotando pois, em alguns anos, não terá artistas para suprir a demanda de seu público cativo.

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Sem inovar, Rock in Rio aposta sempre nas mesmas bandas para se apresentar no festival
Divulgação/Rock in Rio
Sem inovar, Rock in Rio aposta sempre nas mesmas bandas para se apresentar no festival

A fórmula pode até funcionar hoje, mas não deve se sustentar no futuro. “Eu não acho (o Rock in Rio) um festival representativo justamente por essa questão da curadoria”, comenta Marcelo. O evento é, de fato, o maior do gênero no Brasil, mas não é inovador o suficiente para se comparar a outros similares no mundo. Mesmo superando em número de público o Primavera Sound, por exemplo, o RiR não o supera em representatividade. O festival que acontece em Barcelona tem uma veia independente, mas o público é diverso e viaja de todo o mundo para conhecer ou celebrar os artistas que se apresentam. No Rock in Rio , não vemos essa movimentação internacional de pessoas, o que o coloca, de maneira geral, como um festival somente brasileiro, perdendo ainda mais o status de comparação de grandeza mundial.

Contradição e vanguarda

Um comentário recorrente em relação ao Rock in Rio é o próprio nome. Com edições em Lisboa e Madrid e outros estilos além do rock em seu line-up, a ideia de só ouvir o estilo musical no festival carioca ficou atrasada. Mas, o investimento em outros estilos foi uma escolha acertada e antecipada. Em sua edição de 2001, o RiR teve uma “Noite teen”, onde tocaram Sandy e Junior, Britney Spears e ‘N Sync. O Glastonbury, por exemplo, foi dar mais destaque ao pop com a inclusão de Beyoncé no line-up em 2011.

“Acho saudável um festival de longa duração que tenha atrações temáticas ”, comenta Marcelo. Ele elogia essa característica do RiR e usa o Primavera Sound como exemplo de sucesso nesse quesito também. Para ele, misturar ritmos é o caminho e torna o evento ainda mais interessante, por atrair públicos distintos. “Festival tem muito essa função de tirar o espectador do lugar comum”, comenta.

Ainda assim, não trabalhar novas bandas, principalmente nacionais, coloca o RiR atrás na corrida novamente. O Far From Alaska , por exemplo, banda de rock de Natal que cresceu muito no cenário nacional nos últimos anos, acabou de participar da edição francesa do Download Festival. Parte do circuito de pequenos festivais, o grupo, que tem o perfil ideal do rock in Rio, nunca esteve pelos palcos de lá.

Rock in Rio

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Divulgação
Encerramento da edição de 2015 do Rock in Rio

Se o nome Rock in Rio não é representativo o suficiente para atrair pessoas de outros países, a marca com certeza chama a atenção dos artistas. Marcelo relembra que, na primeira edição, o criador Roberto Medina teve que ir pessoalmente conversar com as bandas e convencê-las a vir ao país. Hoje, esses artistas reconhecem a marca e sabem da sua importância no Brasil. A realização do festival, inclusive, foi crucial para incluir nosso país nas turnês de grandes artistas internacionais desde então.

O festival tem muitos méritos, mas pouca atenção ao cenário musical atual. Enquanto por agora esse fator parece não afetar o evento, pode comprometê-lo no longo prazo. “O Rock in Rio precisa entender que o festival não precisa ganhar todo o dinheiro do mundo hoje e não cuidar do amanhã”, comenta Lúcio. Porém, se investir nessa estratégia e equilibrar melhor artistas consagrados e menores, o festival tem tudo para ter vida longa no Brasil.

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