A banda Veja Luz lançou neste mês o álbum "Escolhas", o segundo de sua carreira. Além de uma nova sonoridade, o novo trabalho do grupo paulista chama a atenção por letras incisivas.

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A banda Veja Luz lançou o álbum
Divulgação/Wlad Raeder
A banda Veja Luz lançou o álbum "Escolhas", o segundo da sua carreira

"Vivemos sob uma luta de classes, cada vez menos velada, cada vez mais nociva e angustiante", explicou o baixista Marcus Rosa em entrevista ao iG . "Nosso papel enquanto artistas periféricos é absorver as demandas da nossa gente e entregá-las em forma de arte, para que assim tenhamos mais vozes unificadas e mais pessoas se encorajando a denunciar as nossas mazelas cotidianas", continuou o músico da Veja Luz .

O trabalho em cima de "Escolhas" foi bem árduo e durou quase dois anos. "Foi um processo que nos exigiu muito empenho e dedicação", disse Marcus. "Por mais que já tivéssemos uma concepção pré-definida em mente, este álbum adquiriu "vida própria" no decorrer do processo, atraindo parcerias incríveis e nos possibilitando a experiência de vivenciar com paixão cada etapa concluída", explicou. No novo disco, a banda recebe o cantor Al Griffiths, o rapper Black Alien e o poeta Sergio Vaz.

Na entrevista abaixo, Marcus Rosa fala sobre "Escolhas", o cover que a banda fez de Chico Buarque e as dificuldades de fazer um álbum independente no Brasil: "a maior dificuldade de todas é sempre a financeira."

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Leia a entrevista:

iG: Como foi a produção desse segundo disco? Vocês curtiram o resultado?
Marcus Rosa: Foi um processo que nos exigiu muito empenho e dedicação, por quase dois anos ininterruptos. Por mais que já tivéssemos uma concepção pré-definida em mente, este álbum adquiriu "vida própria" no decorrer do processo, atraindo parcerias incríveis e nos possibilitando a experiência de vivenciar com paixão cada etapa concluída. Estamos muito felizes e o resultado superou nossas expectativas.

iG: Como esse disco é diferente do primeiro?
Marcus Rosa: O álbum "Escolhas", diferente do primeiro, "Veja Luz", teve todo um cuidado mais minucioso desde o início do processo. Procuramos executar todas as etapas sem nenhum tipo de ansiedade ou euforia para vê-lo pronto. A musicalidade da banda está mais amadurecida e isso se reflete com naturalidade em cada faixa, pois cada uma tem sua atmosfera e se diferencia de outra. Outro fator determinante, ao nosso ver, é que conseguimos de certa forma ampliar a temática e as letras estão mais poéticas, falam para mais gente e não se limitam apenas ao nicho do reggae. É um disco com outras linguagens e referências, que pode nos levar a outros ambientes, com bastante propriedade.

iG: Como foi o contato de vocês com o Chico Buarque pra ele autorizar a regravação de uma faixa?
Marcus Rosa: A princípio, fizemos uma releitura de O Que Será  para participarmos de um concurso musical cujo regulamento exigia que as bandas e/ou artistas executassem uma canção conhecida de algum grande artista nacional. Na ocasião estávamos ouvindo bastante coisas do Chico em nossas viagens e turnês; foi uma escolha meio que unânime e bem tranquila, embora tenha sido uma tarefa difícil (por se tratar de uma obra com inúmeros arranjos dissonantes, algo pouco usual na música reggae produzida no Brasil). O resultado nos deixou tão felizes que logo surgiu a ideia de utilizarmos a versão em nosso álbum, como forma de homenagem. Fomos atrás da editora que detém os direitos sobre sua obra (Marola, do Rio de Janeiro), fizemos contato, enviamos a versão gravada de um ensaio para ele ouvir e, dias depois, soubemos que ele ouviu e gostou. Pagamos a taxa (de práxis) e conseguimos a liberação.

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iG: As letras desse novo álbum são bem incisivas e contestadoras. Vocês acham que esse tipo de questionamento é um dos papeis da música?
Marcus Rosa: Sim, ainda mais quando o artista tem a mesma origem que a nossa! Vivemos sob uma luta de classes, cada vez menos velada, cada vez mais nociva e angustiante. Nosso papel enquanto artistas periféricos é absorver as demandas da nossa gente e entregá-las em forma de arte, para que assim tenhamos mais vozes unificadas e mais pessoas se encorajando a denunciar as nossas mazelas cotidianas. É claro que tudo é uma questão de ponto de vista e não há uma verdade absoluta. Nós estamos enxergando assim, mas há os que sofrem das mesmas dores e preferem se abstrair da realidade e utilizar a música apenas como fonte de entretenimento e não como ferramenta de luta. A música pode ser uma arma muito importante para despertar os "adormecidos" e nós preferimos usá-la dessa forma, que vai muito além de estética, fama ou milhares de views na internet, mas sim de representatividade histórica junto ao nosso povo.

iG: Quais são as maiores dificuldades de gravar um álbum independente?
Marcus Rosa: Ser um artista independente já te torna dependente de alguém ou de alguns. A maior dificuldade de todas é sempre a financeira, pois sabemos que tudo que envolve uma produção com um bom nível de qualidade é inevitavelmente muito caro. E, como em muitos casos não há patrocínio, fomento via edital, nem mesmo um empresário envolvido, esses custos acabam sendo cobertos com grana de shows. Portanto, além de a banda ter de se concentrar e dar o seu melhor para produzir um disco, ela precisa estar na estrada, tocando e fazendo caixa para tornar real o sonho de ter seu trabalho realizado e sendo ouvido por milhares de pessoas. Talvez outra grande dificuldade seja driblar a ansiedade, as frustrações com quando algo dá errado e conseguir sensibilizar as pessoas certas no processo, para que entrem em campo junto e dividam um pouco do peso e da responsa, que não são poucos.

iG: O que vocês estão planejando para o futuro?
Marcus Rosa: Estamos bem felizes com o feedback do nosso público em relação ao disco "Escolhas" e as perspectivas são as melhores possíveis. Estamos planejando o show de lançamento do disco físico para o próximo dia 6 de agosto, no Centro Cultural São Paulo. Lançaremos em breve uma tiragem em vinil do álbum. Temos duas propostas de videoclipes encaminhadas ainda para este semestre e já está sendo construída uma agenda de circulação pelo Brasil com este lançamento. Será um segundo semestre de muito trabalho!

Veja Luz em São Paulo
Quando: domingo, 6 de agosto, às 18h
Onde: Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso)
Quanto: de R$ 10 a R$ 20

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