Goste ou não de Christopher Nolan, há uma verdade indelével que precisa ser reconhecida. Ele é hoje o cineasta mais poderoso no cinemão americano. Sim, Steven Spielberg continua fazendo os filmes que quer, mantém boa relação com todos os estúdios em Hollywood e ainda é a grande referência quando se pensa em espetáculo hollywoodiano, mas experimenta seus fracassos aqui e ali, como o recente “O Bom Gigante Amigo”, que fez para a Disney.

Christopher Nolan dirige seus jovens atores nos bastidores de Dunkirk
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Christopher Nolan dirige seus jovens atores nos bastidores de Dunkirk


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David Fincher é outro que conseguiu durante um bom tempo navegar nas hostis águas do esquema de estúdios fazendo filmes comerciais com forte componente autoral. “Zodíaco” (2007), “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008) e “Garota Exemplar” (2014) são bons exemplos. Mas a bilheteria reticente de suas produções mais recentes o colocaram na rota da sequência de “Guerra Mundial Z”. Com Christopher Nolan é diferente.

O cineasta britânico lança o seu décimo filme, o ótimo “Dunkirk” , gozando de cada vez mais prestígio junto à Warner Bros , estúdio com o qual trava próspera parceria desde “Insônia” (2002), seu terceiro longa-metragem. Nolan domina o sistema de estúdios com rara habilidade. A Warner ainda é um dos poucos estúdios a confiar nesse tipo de relação com um cineasta. Clint Eastwood e Ben Affleck são outros exemplos de diretores que só lançam trabalhos pela empresa. Mas Nolan, mesmo quando enfrenta ceticismo da crítica – caso de “Interestelar” (2014) – consegue atingir o público e repercutir na bilheteria. Dessa maneira, vai ganhando ainda mais moral junto à Warner.

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O cineasta Christopher Nolan no set de "A Origem" ao lado do ator Leonardo Di Caprio

Filmes como “O Grande Truque” (2006), “A Origem” (2010) e este “Dunkirk” (2017) são projetos pessoais do cineasta bancados pelo estúdio. A revitalização do homem-morcego, claro, deu moral ao cineasta, mas ser um dos cineastas mais criativos em atividade é outro ponto que conta muito na boa relação com o estúdio. Tanto que Nolan faz seus filmes sem ser em 3D – ele tem resistência declarada ao formato – e conta com toda a máquina de propaganda do estúdio para favorecer filmes cada vez mais inusitados na temporada de blockbusters.

“Dunkirk”, por exemplo, teve um custo estimado em US$ 100 milhões. Para se ter uma base de comparação, “Em Ritmo de Fuga”, outro filme essencialmente original desta temporada e que chega concomitantemente ao Brasil, custou cerca de US$ 34 milhões aos cofres da Sony. O poder de influência de Nolan é gigantesco. “Dunkirk” em nada se assemelha a um filme típico do verão americano e, ainda assim, é a experiência cinematográfica mais espetacular da temporada.

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Nolan no set de "O Grande Truque"

Essa equação não é gratuita. Nolan é um diretor de convicções fortes. Demonstra resistência a trabalhar com a Netflix – “eles têm essa política pouco inteligente de que tudo precisa ser lançado simultaneamente em sua plataforma de streaming” – e já reiterou que se situa no lado da trincheira de quem sempre vai batalhar pela experiência de se ver um filme no cinema.

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Com um cinema dotado de certos maneirismos e obsessões – não à toa suas narrativas costumam versar sobre homens obsessivos – Nolan rapidamente se configurou em figura polarizadora. Há os que o amam e aqueles que não suportam seu cinema.

Outra figura poderosa do cinema contemporâneo, J.J Abrams, enfrenta criticismo parecido. Mas o que difere Abrams de Nolan, é que o primeiro consegue operar em beats conhecidos emulando um jovem Spielberg, enquanto o segundo impõe ao cinema uma lógica muito particular.

Christopher Nolan pode até não ser influente nas futuras gerações, o que é difícil de acreditar, mas certamente indica a pretensos cineastas de que ainda é possível fazer o filme que quiser e ganhar muito dinheiro e status com isso. O resto é resto.

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