Filmes de ação para a maioria das pessoas são sinônimos de caras fortes, explosões, lutas emocionantes e muita testosterona no ar, mas não é bem assim na realidade. Aos poucos as mulheres estão conquistando seu espaço e se tornando lideranças cada vez mais fortes no gênero – “Mulher Maravilha” foi o exemplo perfeito de que, sim, heroínas podem tanto quanto seus pares masculinos. O papel das mulheres no cinema de ação está mudando, mas esse mercado ainda está longe de poder falar em “igualdade”.

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Charlize Theron é a protagonista de
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Charlize Theron é a protagonista de "Atômica", filme que pode mudar a cara das participações femininas no cinema de ação

Esquecidas

Não é de hoje que as mulheres pegam em armas e detonam nas telas. Lucas Nascimento, estudante de Rádio e Televisão, descobriu que figuras femininas começaram a surgir nessa posição há muitos anos durante o movimento da “blaxplotation” durante a década de 1970, quando surgiram as primeiras mulheres no cinema de ação . Poucos depois elas já lideravam franquias do gênero como “Lady Snowblood” (1973) e “Alien” (1979), mas ainda eram minoria em um universo dominado quase exclusivamente pelos homens.

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Para Lucas isso tem a ver, em partes, com quem ia ao cinema ver esses filmes. “Eles [homens] gostavam de enxergar a versão idealizada deles mesmos, as mulheres nesses filmes eram só um objeto”, comenta o estudante. Mesmo que hoje o público feminino represente uma maior parcela da bilheteria dessas produções, ainda há reações negativas quando introduzem mulheres como protagonistas. Natalia Kreuser, do canal no Youtube “Kreuser tipo Freud”, observou que nem todos receberam tão bem o filme da “Mulher Maravilha”. “Percebi que homens no geral consideraram como ‘mais um filme de herói’ [...] na hora de falar o que ela representou, você vê pequenos incômodos”.

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"Mulher Maravilha": só mais um filme de herói?

Assim, muitos títulos que efetivamente foram lançados com mulheres no comando não foram bem sucedidos e acabaram relegados ao esquecimento. Essa cultura predominantemente masculina acaba desencadeando um efeito dominó dentro da indústria: se filmes já feitos não foram um sucesso, por que investiriam em novas tentativas? Desacreditadas, as mulheres acabam sendo destacadas antes mesmo de tentarem.

Voz da mudança

Com os ventos soprando a favor da pauta feminista pela disseminação massiva de informações pela internet, novas portas estão sendo abertas no cinema de ação. “Temos produtoras que estavam aguardando esse momento”, comenta a youtuber Mellisa Pereira que comanda o canal “Yada Yada”. Ela ressalta em contrapartida que muitos também irão  apenas aproveitar esse “boom” de mulheres parar lucrar, mas que isso pode ter seu lado positivo por incentivar representatividade feminina no cinema.

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Apesar de aos poucos Hollywood estar abraçando a participação de mulheres no cinema de ação, ainda há um longo caminho para que haja igualdade. Personagens femininas ainda caem frequentemente em estereótipos de gênero que prejudicam seu desenvolvimento. Muitas mulheres ainda são hipersexualizadas para agradar o olhar masculino, como o caso do filme “Sucker Punch” (2011) em que as personagens eram sempre filmadas por ângulos “provocantes” e as roupas, curtíssimas.  A questão da representatividade também vai mais longe, uma vez que mesmo com mulheres no protagonismo, elas ainda reproduzem padrões estéticos quase surreais. “Não me lembro de protagonistas ‘fora do padrão’ sendo bem sucedidas no meio cinematográfico”, comenta Natalia.

 Scarlett Johansson, uma das atrizes mais frequentes no cinema de ação, em cena de
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Scarlett Johansson, uma das atrizes mais frequentes no cinema de ação, em cena de "A Vigilante do Amanhã"

Otimista, Mellisa reconhece que as coisas ainda não são boas e assume sentir falta de perfis mais independentes e “menos artificiais”, mas acredita que em breve o jogo pode virar para as personagens femininas. “Espero ver filmes de ação que aproveitam as mulheres não só como apoio masculino”, finaliza.

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