Muitas especulações acerca de “Deadpool” rondaram as indicações do Oscar 2017 . Fãs acreditavam que o filme teria chances de emplacar em algumas das categorias da premiação, inclusive na mais importante delas, a de Melhor Filme. Entretanto, a lista divulgada no final de janeiro rompeu com as expectativas dos cinéfilos mostrando que não foi dessa vez que um filme de super-herói rompia as tradicionais barreiras da Academia. Para o professor da University of Southern California nos Estados Unidos, Henry Jenkins, o passado da premiação apresentava um cenário um pouco diferente.

Com a chegada do Oscar 2017, as expectativas que
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Com a chegada do Oscar 2017, as expectativas que "Deadpool" emplcaria na lista de indicados eram grandes


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“Se você voltar para o começo dos Prêmios da Academia, temos filmes de diversos gêneros, como o terror ‘Dr. Jekyll and Mr. Hyde’ indicado a Melhor Filme. Entretanto, a partir das últimas décadas, provavelmente começando nos anos 1960, tudo o que fizemos foi nos tornarmos mais conservadores”, analisa o professor. Para ele, a indicação de filmes no Oscar tornou-se previsível. “Chegamos a um ponto em que no começo do ano sabemos quais são os filmes do Oscar daquele ano. De um lado, Hollywood tende a reconhecer filmes históricos épicos e biografias e, de outro, clássicos melodramas e com problemas sociais. Comédias, por exemplo, tem saído da lista nas últimas décadas”, revela Jenkins, que reconhece no Oscar 2017 um arranjo mais diverso de gêneros na lista de indicados.

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Apesar de não ter alcançado as melhores categorias, os filmes de super-heróis emplacaram em Melhor Efeitos Visuais e Melhor Maquiagem com “Doutor Estranho” e “Esquadrão Suicida”, respectivamente. Para Jenkins, o critério destas categorias é outro, o que explica o reconhecimento dos filmes na lista de indicados. “Eles estão buscando geralmente mais ceticismo e menos drama porque isso permite uma exibição espetacular de talento técnico e inovação”, comenta. “Então, não é acidente que ‘Doutor Estranho’ apareça como efeitos visuais quando ele busca representar uma realidade radicalmente diferente daquela que nós estamos acostumados; Ou que ‘Esquadrão Suicida’, que precisou da criação de diferentes monstros e vilões espetaculares esteja indicado para melhor maquiagem. É aí que esses tipos de filmes ganham prêmios da academia”, completa. Entretanto, o professor alerta: “há um certo tipo básico de hierarquia onde os filmes que são considerados pelos prêmios técnicos são raramente os mesmos que são considerados nos melhores prêmios”.

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Os vilões

Apesar da resistência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos em reconhecer os filmes de super-heróis, há uma tendência dos longas com anti-heróis terem mais espaço em relação ao seu reconhecimento, como aconteceu este ano com filmes como “Esquadrão Suicida”, “Animais Noturnos” e “A Qualquer Custo”. “Acho que há uma tendência de que quase todos reconheçam trabalhos que empurrem um outro lado mais cético. "Se você vai dar um prêmio a um musical será algo como 'La La Land', que se não é um anti musical, então é um musical cético. Um musical onde o protagonista está sempre testando as nossas expectativas em relação ao gênero", explica Jenkins. “Há uma tendência de ver o fraco como mais sério, mais importante. Uma tendência de procurar mais trabalhos céticos como reflexão de qualidade comparado a outros trabalhos mais afirmados”, completa.

O futuro dos super-heróis

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"Capitão América: Guerra Civil" foi um dos grandes filmes do ano para Jenkins

Para Henry Jenkins, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” foi um grande marco para os filmes de super-heróis e “Capitão América: Guerra Civil” também entra na conta de bons filmes produzidos nos últimos anos. “O desafio é imaginar a Academia se abrindo suficientemente para dar ao ‘Capitão América: Guerra Civil’ um prêmio”, revela. Entretanto, o tradicionalismo da Academia não seria a única explicação para que as estatuetas do Oscar não chegassem às mãos dos criadores de filmes do gênero. “Nós temos que entender nos termos da academia que ela está fornecendo a si mesma uma alternativa meio que encorajando, incentivando a produção de filmes que poderiam ter um risco comercial e utilizando o prêmio como uma maneira de contrabalancear o mercado”, revela o professor.

Nesse aspecto, os filmes de super-heróis se apresentam como desinteressantes aos olhos da Academia, como avalia o professor. “Pensando em larga escala, amontoar qualquer personagem em alguma produção da Marvel possivelmente está tornando-se tão genérico nos olhos de Hollywood e é o que o Oscar luta contra. Eles fazem mais dinheiro do que precisam, não há razão para concorrer aos prêmios, não é como um filme como 'Moonlight: Sob a Luz do Luar' que ganha visibilidade com o prêmio”, analisa. “Então eu suspeito que para que um filme de super-herói ganhar esse prêmio teria que ser um filme que não tenha esse suporte extra. Tem que ser algo que seja novo e instintivo, mas o tempo trará para o gênero de super-herói reconhecimento”, completa o professor.  

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