Muitas pessoas enxergam atualmente uma “crise na cultura”, ou seja, o desmoronamento das instituições culturais da forma como eram no passado, entretanto, essa visão pessimista não compreende que para o surgimento de algo novo, é necessário acabar com suas bases para, então, reconstruí-las de acordo com necessidades modernas. Os museus – e demais instituições – estão se renovando e construindo sua nova identidade, mas, afinal, qual é o futuro dos museus?
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Quem vive de passado é museu?
Errado. Os museus vivem de olhar para frente e prospectar as novidades e, sobretudo, criar um diálogo entre o passado, o presente e o futuro com o visitante. “A questão da inovação é permanente na arte” pontuou Ricardo Ohtake , presidente e diretor do Instituto Tomie Ohtake em São Paulo. Ele acredita que não podemos ter medo de aceitar o passado e os grandes artistas que fizeram história , mas que a arte está fundamentalmente sempre olhando para frente e por esse motivo nunca se esgotaria.
Tadeu Figueiró , gerente geral do Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo ( CCBB ), acredita que, apesar das instituições já estarem caminhando no sentido certo, é necessário “desmistificar esse estereótipo negativo de que ‘quem vive de passado é museu’”, em suas palavras. Ele ressaltou que o público está sempre se renovando e que, por isso, os museus irão acompanhar esse movimento. “É uma nova geração, uma nova plateia”, finalizou ele.
Espaço em transformação
Um estudo publicado em 2015 pelo britânico The Art Newspaper que, anualmente elabora um anuário com o balanço de museus e exposições de arte ao redor do mundo, mostrou que a expansão no espaço físico de museus tem impacto direto no número de visitantes que a instituição recebe. Isso mostra que os museus também são espaços em transformação, contrariando a ideia de que sejam locais estagnados no tempo.
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Além disso, com o avanço vertiginoso da tecnologia nos últimos anos, surgiu também a possibilidade dos museus irem além dos seus limites físicos e ampliarem sua capacidade através de meios digitais. Para Lucas Pessoa , diretor de operações do MASP , essa é uma mudança sensível para as instituições. “As ferramentas digitais permitiram que o museu extrapolasse seu espaço museulógico”, comentou ele. Para se ter uma ideia, em 2016 o MASP recebeu cerca de 410 mil pessoas ao longo do ano, em contrapartida o site da instituição registrou mais de um milhão e meio de acessos no mesmo período.
Mundo digital e o futuro
Museus ao redor do mundo já começaram a investir no que a internet pode oferecer e apostam no “público virtual”. Centenas de museus já desenvolveram ferramentas que permitem que o usuário faço um “tour virtual” pelo seu acervo exposto. O Museu do Louvre , na França, por exemplo, aderiu ao sistema e já há algum tempo disponibiliza a experiência no seu site.
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No relatório “ Trends Watch 2016 ” (“Tendências de 2016”, em tradução livre), publicado pela American Alliance of Museums eles já apontam que recursos de realidade aumentada e realidade virtual como ferramentas que apresentam grande potencial para os museus. Eles ressaltam a capacidade desses dispositivos de criarem uma “nova realidade” que proporciona um grau mais avançado de experiência para os visitantes das instituições. À medida que recursos de realidade virtual se tornam mais acessíveis, eles acreditam que os museus tendam a investir mais na conversão entre seu espaço físico limitado e as novas portas que a tecnologia está abrindo. “Os museus estão se adaptando ao mundo contemporâneo”, reitera Tadeu Figueiró.
Experiência no centro
“O museu precisa ser um lugar vivo, ter mais atividades que dinamizem o público, como exposições com experiências sensoriais”. André Sturm , atual secretário municipal da cultura de São Paulo, foi um dos precursores do novo modelo imersivo de exposições que dominou a cidade nos últimos anos quando esteve a frente do MIS – e essa tendência vem sendo abraçada mundialmente. Conforme o perfil do público muda, os museus também precisam mudar e oferecer experiências que dialoguem com as vontades das pessoas.
Enquanto que, por um lado, visões mais conservadoras são críticas a esse tipo de projeto, há quem enxergue essa movimentação com entusiasmo. Tadeu Figueiró, do CCBB, acredita que o público será cada vez mais importante nas exposições de arte. Para ele, os museus serão espaços que promovem não somente cultura ou entretenimento, mas irão proporcionar uma jornada de transformação para o público que, em contato com a exposição, é convidado a refletir e se recriar.
Lucas Pessoa, do MASP, também apontou a experiência e o diálogo como os novos polos norteadores dos museus da era contemporânea. Ele vê a mudança de perspectiva das novas gerações como um motor que está impulsionando essa transformação das instituições que, cada vez mais, irão trazer novidades que abracem os anseios de um público que deixou de apesar ser um visitante, mas passou a ser parte integrante da exposição. Os “ museus do futuro ” deixam de ser um espaço para exibição do passado e passam a ser um agente do presente.