Quando eu era garoto, me tremia todo ao assistir “Brinquedo Assassino” e acho que ainda hoje levaria alguns sustos. No filme, de 1988, Chucky é comprado como um presente para um menino, mas por ter sido amaldiçoado antes por um serial killer que morre dentro de uma loja de brinquedos, ganha vida e vira um psicopata. Esse clássico do terror fez tanto sucesso que rendeu duas continuações, um remake em 2019 e está para estrear como série em 2021.
Agora, e se eu dissesse que há mais de 100 anos, em Key West, no sul da Flórida (EUA), existe um boneco chamado Robert, que é tão macabro quanto o do filme? Don Mancini, roteirista que criou Chucky, e Tom Holland, que dirigiu seu primeiro filme, jamais fizeram qualquer menção de que se basearam em Robert, mas que as histórias dos bonecos têm semelhanças isso têm.
Amigo ou inimigo infantil?
Em 1904, o garoto Robert Eugene Otto, o “Gene”, de quatro anos, ganhou um boneco de um metro de altura, feito de tecido e recheado de palha. Ele gostava tanto do brinquedo, que deu a ele seu próprio nome, Robert. Gene, ainda vestiu o “amigo” com suas roupas de estilo marinheiro e montou para ele um quarto no sótão, com direito a móveis e bichos de pelúcia.
Diziam que os dois eram inseparáveis e quando alguma travessura acontecia na casa da família Otto, Gene apontava Robert como o culpado. O menino ainda passava horas de papo com o boneco e, segundo pessoas próximas que posteriormente foram entrevistadas, imitava uma voz diferente para ele se comunicar. Os pais de Gene sabiam disso, mas não o repreendiam por ver graça e inocência na sua imaginação.
Mas, o que surgiu como brincadeira não demorou a virar preocupação. Gene, que dormia com o boneco, começou a ter pesadelos e acordava no meio da noite gritando pelos pais, que o encontravam rodeado de brinquedos jogados pelo chão despedaçados. Sem saber ao certo o que acontecia, o casal decidiu separar o filho do boneco, que acabou guardado e esquecido.
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Encarnação do mal
Gene cresceu, virou pintor, se casou, herdou a casa da família e se “reconciliou” com o boneco após tê-lo encontrado. Depois disso, Robert foi levado para o quarto da torre, onde Gene gostava de pintar. As crianças diziam ver o boneco nas janelas se mexendo e as encarando. Com as mortes de Gene e sua esposa nos 1970, o imóvel deles foi comprado com tudo que havia dentro por Myrtle Reuter, que anos depois revelou o terror causado pelo boneco.
Apesar de ficar guardado no sótão, Robert, segundo Reuter, perseguia sua filha e a torturava – ela só não especificou de que maneira. Além disso, amigos seus, prestadores de serviço e até curiosos pelo o que acontecia na casa afirmaram ter presenciado barulhos vindos do piso superior, risadinhas sinistras e outros acontecimentos sobrenaturais. Malcolm Ross, repórter de um jornal local chamado “Solares Hill”, afirmou, após ver o boneco, que ele mudava de expressão de acordo com as conversas do ambiente e possuía algum tipo de inteligência.
O porquê desse suposto comportamento de Robert ninguém sabe ao certo. Segundo algumas versões, ele era um vodu que foi dado a Gene por um empregado ou uma jovem das Bahamas, que talvez para se vingar de seus pais por algum motivo, teria lançado uma maldição no boneco. Outra hipótese apontada é que Gene seria o culpado pelo o que Robert se tornou. Ele teria transferido a ele tudo de negativo que reprimia: frustrações, culpas e desejos ocultos.
Envelhecido, mas à espreita
Em 1994, depois de vender sua casa, que atualmente funciona como um hotel, Myrtle Reuter doou Robert ao Museu Fort East Martello, em Key West, e pouco depois morreu. Assim que o brinquedo chegou, a equipe da instituição logo notou uma mudança nas energias locais e um aumento no número de visitantes, que, ao saberem do paradeiro do famoso boneco, cobraram do museu uma exposição permanente dedicada a ele.
Desde então, Robert, por estar muito velhinho e desbotado, está preservado em uma vitrine. Segundo um site dedicado a ele e mantido com o apoio da Sociedade de Arte e História de Key West, câmeras e dispositivos eletrônicos não funcionariam bem na sua presença e inúmeras cartas já teriam sido enviadas por gente arrependida de tê-lo ofendido. Não por acaso, o museu informa aos visitantes que se apresentem e peçam permissão a ele antes de fotografá-lo.
De acordo com os supersticiosos, o boneco, quando contrariado, poderia provocar desastres de todos os tipos, de acidentes de carro a demissões e fim de relacionamentos. Ao que tudo indica, a última vez que pisou fora do museu foi em 2015, em Las Vegas, mas para participar da gravação de um programa sobre possessões. Também foi retratado na série de TV “Lore” e inspirou uma franquia de filmes de terror B que estreou com “A Maldição do Boneco Robert”.
Fontes: Sites kwahs.org, da Key West Art & Historical Society; robertthedoll.org; artisthousekeywest.com; The Hollywood Reporter; The Independent; e programas de TV “Ghost Adventures" The Haunted Museum” e “Robert The Doll”.