Diário de Jerusa
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Términos Inacabados

  1. Episódio 2 - Jerusa segue a pista dos diários roubados. 

“O segredo da felicidade é a liberdade… e o segredo da liberdade é a coragem.” – Tucídides

 Um dia antes da nossa penúltima conversa eu pressenti. Ele estava aprontando alguma. Não era nenhuma coisa evidente. Mas o olhar. Um olhar que desvia. Um olhar que não te enxerga. Um olhar de quem sabe que pode contar com a fragilidade (que eu não tenho, mais uma prova de como ele não tem ideia de quem eu sou). Um olhar de quem tem nas mãos um segredo não compartilhado. E quando isso acontece eu sabia que ele estava se concentrando em outro assunto.

Dizem que nós mulheres podemos pressentir, mas não é bem assim. Nós deduzimos exatamente como os homens. Temos os mesmos recursos e a mesma metodologia. Se possuímos um sexto sentido ele é usado para coisas muito mais úteis do que pressentir coisas masculinas. Quem sabe devemos usá-las para diagnosticar nossos filhos? Como um amigo médico me disse: se a mãe não faz o diagnóstico, ninguém mais faz!

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Minha conversa com o jornaleiro na banca – nunca pensei que pudesse acontecer algo do gênero – despertou em mim uma vontade que desconhecia, vontade não, vocação. Um sujeito que vende jornais ter uma impressão instantânea e precisa do meu estado psíquico? Como é que Afanes acertou quase tudo? Algum grau de premonição? Ou ele tem uma capacidade de deduzir acima da média? Como erramos na avaliação do homem comum. Na verdade não existe isso de "homem comum". Essa arrogância não é só ridicula, ela é fatal.    

No dia seguinte daquela conversa, tomei uma decisão. Precisava recuperar meus diários de qualquer jeito. Contratar um mercenário estava fora de qualquer cogitação. Pensei primeiro em ligar para ele e falar diretamente. Civilizadamente.

 “Zoilo, não adianta negar, eu sei que você surrupiou os meus diários. Te dou a oportunidade de me devolver nos próximos dias. Dia 10, pronto que é, como você deve lembrar, a data do meu aniversário. E prometo, não vou te processar”

Fiz e refiz o texto que iria me orientar e a versão ficou bem direta e sintética:

“Otário, devolva meus diários agora, já, imediatamente!”

Às vezes, o melhor caminho para lidar com canalhas é a linguagem direta. Eu sabia que ele era um excelente instrumentalizador de pessoas e uma conversinha amena só iria me derrubar. E eu também sabia que havia uma chance, hoje remota, de ser enrolada por ele. O homem agora tinha milhões de seguidores, e eu fui a principal responsável!  Não bastasse ele me usar na vida, roubou meus pensamentos íntimos.

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Como pode? Fui casada com uma pessoa sem a menor ética. E olha que já estudei a origem da palavra, tudo anotado onde? Nos diários. Quem não se lembra do slogan “Ética na política”?  Me lembro deste termo muito usado em uma época. Conversa fiada, nem na Política, nem na vida privada.

 Foi quando tomei a decisão. Não vou escrever droga nenhuma. Nada de mensagens de texto, nem no WhatsApp, não vou mandar mensagem de voz, ou ligar, vou até lá confrontá-lo, pessoalmente.

 Ele mora num lugar luxuoso na Barra. Ele nunca foi fisicamente violento, mas e daí?

 Eu me sentia intimidada, mas isso bastava para acusá-lo?

 Chega!

Cogitei levar um spray de pimenta, esqueci e sai com minha moto de um jeito impulsivo.

Como dizia minha mãe: “você só precisa de 15 segundos de coragem”

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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