Cris Andrade e Giovanna Antonelli
Reprodução Instagram
Cris Andrade e Giovanna Antonelli

De catadora de lixo a dona de bufê. A história de Cris Andrade, hoje com 40 anos, tem contornos de conto de fadas, com direito a final feliz, e parece ter saído de um filme. Ou melhor, de uma novela. Aos 22, a carioca trabalhava no Lixão de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, quando chamou atenção de Giovanna Antonelli durante uma gravação de “Da cor do pecado”, novela de 2004 que acaba de chegar ao Globoplay. A intérprete da vilã Bárbara filmava a cena em que é largada por Tony (Guilherme Weber) vestida de noiva e se surpreendeu com a beleza da jovem em meio àquele cenário. Daquele dia em diante, a vida de Cris mudou totalmente graças à repercussão do encontro com a atriz.

"Lembro detalhadamente o dia em que conheci Giovanna. Todos os outros catadores pararam de trabalhar para ver a gravação, mas eu, por ser mãe solteira e estar em condições muito precárias, fui lá para o final (do local), onde conseguia acessar o lixo, e fiquei trabalhando no cantinho. Giovanna queria saber quem era aquela pessoa. Só escutei um barulho atrás de mim, e quando olhei para trás era ela. Giovanna me elogiou, perguntou meu nome e me abraçou. A mulher toda estrela, e eu fedia muito (risos)", lembra Cris, que viu a novela diversas vezes: "Acompanhei nas reprises, porque na época (da transmissão original) eu catava tanto de dia quanto de noite".

Após o encontro com Giovanna, Cris investiu na carreira de modelo, que, no entanto, não durou muito. Depois, ela morou por 13 anos em São Paulo, trabalhando num restaurante, até voltar para o Rio e abrir seu próprio negócio. A atriz e a ex-catadora se reencontraram em 2020, 16 anos depois daquela gravação, quando um fã-clube da artista organizou uma surpresa para Cris:" Giovanna entende que sou grata. Ela não sabia de mais nada da minha vida, mas eu tinha certeza de que um dia esse reencontro aconteceria. Eu chorei tanto, e ela também. Depois disso, nos falamos mais uma vez por videochamada", continuou.

Foi nesse reencontro que Cris contou a Giovanna a grande homenagem que faria à atriz: dar o nome da artista à sua primeira neta. A pequena Giovanna completou 1 ano no último sábado: "Eu que pedi essa criança ao meu filho. Queria uma menina, com o nome Giovanna, para agradecer a tudo que ela (a atriz) fez por mim. Pude proporcionar uma vida melhor para a minha família depois que a conheci. Fiz até uma tatuagem no braço com a data e a hora em que a minha neta nasceu. Ela é tudo o que eu pedi a Deus, o resumo da minha história", acrescentou ela.

Cris tem dois filhos: Gustavo, de 21 anos, pai da bebê, e João, de 13. Moradora de Bangu, ela comanda um bufê com 25 funcionários, negócio que começou há cinco anos. "Eu só estudei até a oitava série, não tinha tempo. Mas no restaurante em que trabalhei em São Paulo, aprendi a ser bartender, a lidar com bebidas, servir, tratar as pessoas de um jeito profissional. Hoje tenho meu próprio negócio. Meu desejo agora é ter um salão de festas completo. Acho que ainda vou conquistar. O custo é um pouco alto. Vivo bem, mas não ganho para isso (risos)", disse.

Depois de tantos anos e cheia de sonhos pela frente, Cris olha para trás agradecida pelas mudanças em sua vida. Hoje em dia, o lixão em que ela foi descoberta foi desativado, e os catadores de lá fazem parte de uma cooperativa: "Tem pessoas que trabalham nessa cooperativa que são da minha época. Penso que eles não tiveram a mesma oportunidade. Poderiam sair de lá um médico, um pagodeiro... Giovanna viu em mim o que eu não tinha visto. Se não fosse ela, talvez eu ainda estivesse num lixão. Ela foi usada por Deus, porque eu não enxergava esse potencial dentro de mim. Hoje sou uma mulher forte", pontuou.

Na luta desde os 11

Cris Andrade e seu filho mais velho
Arquivo pessoal
Cris Andrade e seu filho mais velho

O caminho de Cris, porém, não teve apenas flores. Após a virada na vida na época da novela, a carioca ficou um ano e meio tentando a vida como modelo, mas diz que não se encontrou na profissão. Ela também conta as outras barreiras que encontrou. "Eu tinha 23 anos, e, no mundo da moda, você já está quase se aposentando (nessa idade), porque começa com 13, 14. Também não davam muita trela para quem era negro na época. Sofri discriminação por ser favelada e vir do lixão. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo, mal sabia me comunicar, então não conseguia me defender", lembra Cris.

Antes de ser descoberta no lixão, Cris já tinha trabalhado em várias outras profissões. Os problemas, no entanto, nunca abalaram a sua vontade de vencer: "Trabalho desde os 11. Comecei como babá. Aos 12, era camelô. Aos 13, costureira. Com 14, fiz um pouco de tudo até parar no lixão aos 15. Sempre fui acostumada a lutar", encerrou ela.

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