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O "BBB 17" foi o programa em que a Globo promoveu mudanças mais profundas em 15 anos e, ironicamente, termina com viés depressivo e melancólico na esteira do protagonismo de Marcos e Emilly

Não. Não se trata de um artigo para defender Marcos. A postura do doc anda indefensável mesmo. Pelo menos, para os propósitos de um artigo de opinião na internet. Mas a reboque das cenas lamentáveis da madrugada de sábado para domingo, em que o médico encurralou Emilly e vociferou contra a gaúcha, e da reação alarmada das redes sociais pedindo sua expulsão do programa, há de se conclamar certa reflexão.

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Marcos encurralou Emilly e colocou o dedo na cara dela durante discussão no
Reprodução/Globo
Marcos encurralou Emilly e colocou o dedo na cara dela durante discussão no "BBB 17"

Há uma semana, o “BBB 17” teve uma inesperada, atribulada e reverberante lavagem de roupa suja. Situação tão descompassada e inusitada que motivou um duro editorial de Tiago Leifert condenando a polarização inflada de torcidas  que ignoram os rumos do jogo e só se engajam em enxergar, assumir e defender seus próprios interesses. O espanto com a permanência de Marcos no paredão do último domingo passa por essa característica da torcida que está alienando a própria vocação do “BBB” enquanto jogo.

Parece inegável que estamos diante de um caso de uma relação amorosa abusiva. Mas apontar apenas Marcos como responsável por essa problemática é sintomático desses tempos apressados em que se dispensa qualquer contexto e se rejeita a complexidade do ser humano e de suas circunstâncias em favor de supersimplificações. É, afinal, a era da pós-verdade.

Marcos xingou a produção do
Reprodução/Globo
Marcos xingou a produção do "BBB 17" após ser eliminado da prova do líder por descumprir uma regra

Mais do que execrar Emilly ou Marcos, estar-se diante da possibilidade de uma análise muito mais profunda, algo que poucos admitem possível em um reality show como o “BBB”. Há de se pensar se o modelo de votação, que a Globo habituou-se a mexer de quando em quando, ainda é válido. É fato que em um jogo em que a verdade não é e nem deve ser o único elemento a ser trabalhado, é deverás assustador quando ela emerge sem concorrência e de maneira tão sufocante, tão inteira e sombria. Marcos e Emilly oferecem um show de realidade que público e programa não estavam preparados para compreender. Se deveriam ou não, é outra discussão.

Em seu esforço para estabelecer boas dinâmicas e confrontar bons personagens, o “BBB 17” ensaiou uma edição diferentona – a começar pela escolha do apresentador. Termina, de maneira caótica e melancólica, com um tremendo viés depressivo e com a Globo no olho do furacão. Vale lembrar que a emissora agiu para excluir Daniel após um suposto caso de violência sexual contra Monique no “BBB 12”. A ação foi provada precipitada no futuro.

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No caso Marcos, a emissora, até o momento, tem agido exemplarmente. “O comportamento do casal nos preocupa”, expôs Leifert no domingo (9). “E o comportamento de Marcos nos preocupa”, continuou. A ordem dessa exposição diz muito. A justiça preconiza o afastamento da paixão, senão é justiciamento e o Brasil, infelizmente, parece sempre voltar a ele.

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